O primeiro princípio da economia circular é eliminar os resíduos e a poluição. Atualmente, nossa economia funciona em um sistema linear, baseado em extrair-produzir-desperdiçar. Pegamos matérias-primas da Terra, fabricamos produtos com elas e posteriormente descartamos esses produtos na forma de resíduos. Esses resíduos, na maioria, acabam em aterros, são incinerados ou se perdem. Um sistema como esse não pode ser duradouro e continuar funcionando no longo prazo porque os recursos do planeta são finitos.
O problema começa com o design – a solução também
Para muitos produtos no mercado, não há um caminho adiante depois do uso. Considere um pacote de salgadinho, por exemplo. Essas embalagens, plásticas flexíveis multimateriais, não podem ser reutilizadas, recicladas ou compostadas, de modo que acabam descartadas. O desperdício está incorporado em produtos como esses: eles são concebidos, desde o início, para serem descartáveis.
Embora pareça inevitável em certas situações, o desperdício, na verdade, é o resultado de escolhas de design. Na natureza, não existe desperdício; trata-se de um conceito que nós introduzimos no mundo. Desde produtos minúsculos e de vida curta, como pacotes de salgadinhos, até estruturas aparentemente permanentes, como edificações e estradas – a economia está repleta de bens, produtos e estruturas projetados sem um questionamento simples: o que acontece com esse produto no fim de sua vida útil?
De linear para circular
Mudando nossa mentalidade, podemos tratar os resíduos como uma falha de projeto. Em uma economia circular, a especificação para qualquer projeto é que os materiais retornem para a economia no final de seu uso. Ao fazer isso, transformamos o sistema linear de extrair-produzir-desperdiçar em um sistema circular.
Muitos produtos poderiam continuar circulando na economia se fossem mantidos, compartilhados, reutilizados, reparados, recondicionados, refabricados e, como último recurso, reciclados. Alimentos e outros materiais biológicos seguros para retornar à natureza podem regenerar a terra, viabilizando a produção de novos alimentos e materiais.
Com foco no design, podemos eliminar o conceito de resíduo.
Designers eliminando resíduos para uma economia circular
À medida que o conceito de economia circular se torna mais amplamente reconhecido como um caminho atrativo, empresas em todo o mundo têm repensado a maneira como projetam, fabricam e refazem seus produtos.
A Apeel, por exemplo, criou uma maneira inovadora de eliminar embalagens descartáveis de plástico termorretrátil para frutas e legumes frescos, ao mesmo tempo em que contribui para reduzir o desperdício de alimentos. A embalagem da Apeel consiste em uma camada de revestimento comestível, feita à base de plantas, aplicada sobre produtos frescos. Essa camada reproduz e aprimora as defesas naturais de frutas e legumes, retardando as duas principais causas de deterioração – perda de água e oxidação.
A Apeel é distribuída aos parceiros em pó e misturada com água nos centros de embalagem. Depois desse processo, o revestimento pode ser aplicado por pulverização, imersão ou pincelagem. Frutas e legumes tratados com a Apeel permanecem frescos por duas a três vezes mais tempo, sem a necessidade de embalagens plásticas.
Muitas empresas passaram a adotar embalagens reutilizáveis como forma de eliminar resíduos, enquanto algumas, como a Lush, estão simplesmente vendendo produtos sem embalagem. A Lush reprojetou alguns de seus produtos líquidos de cuidados pessoais para vendê-los em formatos sólidos, evitando o uso dos recipientes plásticos. A linha “nua” da empresa agora inclui xampu, condicionador, lavagem corporal, tonificante e desodorante.
A eliminação dos resíduos e da poluição não se limita às embalagens. A empresa têxtil DyeCoo desenvolveu uma tecnologia para tingimento de têxteis sem usar água e, portanto, elimina águas residuais tóxicas. Em vez de água, a DyeCoo usa dióxido de carbono como solvente em um sistema de circuito fechado. Embora o investimento de capital nos equipamentos seja maior do que no processo de tingimento convencional, a empresa relata que pode reduzir os custos operacionais devido aos ciclos curtos do lote, ao uso eficiente do corante e à eliminação do tratamento de águas residuais. A tecnologia também pode reduzir os riscos de saúde e segurança, uma vez que minimiza a exposição dos trabalhadores a produtos químicos tóxicos.
Uma máquina da DyeCoo é capaz de processar 800 toneladas de poliéster por ano, economizando 32 milhões de litros de água, evitando o uso de 160 toneladas de produtos químicos e eliminando completamente a liberação de águas residuais no ambiente natural.
A hora é agora
Ao adotar esse primeiro princípio da economia circular, podemos começar a completar o circuito de materiais, fechando a torneira que hoje envia diariamente uma torrente de resíduos para aterros e incineradores. Com ênfase no design desde a origem, podemos eliminar os resíduos antes mesmo de serem criados.