Acredito que nossa filosofia é voltada para o futuro, que é o que é necessário hoje, e que está em sintonia com o novo espírito que agita nosso tempo.
- Ove Arup, Key Speech Winchester 1972
A Arup é uma empresa multidisciplinar, referência na área de design, e desempenhou um papel central em muitos dos projetos de construção mais emblemáticos e de alto nível da era recente, como a Ópera de Sydney. Fundada em 1946, a Arup tornou-se conhecida por sua abordagem inovadora para projetos complexos e desafiadores, predominantemente no ambiente construído, mas também em outros setores.
Com mais de 16 mil funcionários, a expertise da Arup inclui profissionais de engenharia, arquitetura, planejamento urbano, economia, design de produto, ciência de materiais e ecologia. A empresa tem escritórios em 30 países e participou de projetos em mais de 160 países.
Projeções indicam que o ambiente construído deve passar por uma rápida expansão ao longo das próximas décadas, particularmente em cidades de países emergentes. O potencial de crescimento é enorme: estima-se que, entre hoje e 2060 uma área equivalente ao tamanho de Paris será construída a cada semana.
Desde o período pós-Segunda Guerra Mundial, predomina na construção de edifícios e infraestrutura o modelo linear, no qual podemos observar:
uso intensivo em recursos – os materiais e o setor de construção são responsáveis por mais de um terço do consumo global de recursos;
emissão de carbono – o setor foi responsável por 37% das emissões de dióxido de carbono processuais e relacionadas à energia em 2021;
altos níveis de desperdício – a construção e demolição respondem por 40% do total de resíduos gerados nos Estados Unidos, e entre 35% e 40% dos espaços de escritório do país são subocupados durante o horário de trabalho.
O reconhecimento da Arup entre diversos setores (em particular devido à sua experiência com construções e infraestrutura), bem como a influência que a empresa mantém junto a governos e outros tomadores de decisão importantes em todo o mundo, são um indicativo de como a companhia está bem posicionada para promover e impulsionar a economia circular.
A economia circular vai além da eficiência material
A Arup é parceira de conhecimento da Fundação Ellen Macarthur desde 2016. Ambas acreditam que moldar um mundo melhor exige mudanças transformadoras globais e em todos os aspectos da sociedade, em vez de mudanças incrementais ou abordagens fragmentadas. Dessa forma, a mudança sistêmica é o eixo central das duas organizações.
Em junho de 2019, o Conselho do Grupo Arup compartilhou a estratégia da empresa para contribuir com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, estabelecendo seis princípios orientadores para as decisões e prioridades de investimento do grupo. A necessidade de adotar princípios de economia circular e regenerar sistemas naturais é crucial para a estratégia da Arup.
O compromisso da Arup em adotar a economia circular como ferramenta para cumprir os ODS é relativamente recente. No entanto, ao longo da história da empresa, a abordagem de design da Arup, encapsulada na ideia de “Arquitetura Total”, tem demonstrado de forma concreta como a circularidade se manifesta no ambiente construído.
Em 2008, por exemplo, a proposta para substituir a Forth Road Bridge, uma estrutura de 50 anos localizada na Escócia, por uma ponte maior foi contestada pela Arup. Em vez disso, a empresa propôs um novo projeto, que mantinha a ponte antiga para tráfego leve, incluindo apenas a construção de uma nova ponte de proporções menores. A intervenção da Arup resultou em uma redução significativa do uso de materiais e outros recursos, além de proporcionar uma entrega mais rápida e menos turbulenta.
O caso da Forth Bridge, assim como outros projetos de arquitetos como Thomas Rau, Bill McDonough e o grupo de engenharia Royal BAM, demonstram como a economia circular pode ser aplicada em diferentes áreas do ambiente construído. Apesar desses exemplos, porém, para fazer a transição para uma economia circular, ainda faltam ao setor, de modo geral, melhores níveis de compreensão, mais capacidade e uma teoria de mudança. Especificamente, ainda prevalece no setor a ideia de que a economia circular é apenas uma estratégia para o uso eficiente de materiais, e não uma nova abordagem para a criação de valor para todos na cadeia de valor.
No caso da Forth Bridge, a economia de custos obtida com a intervenção da Arup, de GBP 1,7 bilhão, contrapõe essa ideia equivocada, indicando a necessidade de melhorar a forma como a economia circular é vista tanto no setor de ambiente construído quanto entre as partes interessadas envolvidas.
As principais características de um ambiente construído circular
Um ambiente construído circular incorpora os princípios da economia circular em todas as funções, estabelecendo um sistema urbano acessível, próspero e que apoia o bem-estar humano e os sistemas naturais. O setor de construção pode concretizar essa visão alavancando o pensamento sistêmico, a tecnologia digital e o planejamento urbano holístico.
As principais características de um ambiente construído circular incluem:
Ciclos de materiais contínuos
Rastreamento e devolução de materiais de construção aos fornecedores para reutilização.
A seleção de materiais não tóxicos e que podem ser reutilizados, a fim de reduzir a poluição e o consumo de materiais virgens.
Design visando à manutenção e desconstrução
Construções projetadas para permitir manutenção, reparo e reutilização em todos os estágios do ciclo de vida (incluindo operação e fim de serviço).
Uso de técnicas como a construção modular, que diminuem a geração de resíduos durante as etapas de construção e desconstrução.
Edifícios produtivos e flexíveis
Os edifícios suprem suas próprias necessidades de energia e água.
Taxas de utilização mais altas devido a espaços compartilhados, flexíveis e modulares.
Sistemas de infraestrutura integrados.
Redes integradas de água, energia e resíduos priorizam os sistemas naturais.
Sistemas de gestão inteligentes utilizam a capacidade disponível ao longo do dia.
Como a Arup trabalha por um ambiente construído circular
A Arup reconhece que a fragmentação da cadeia de valor e a formação de silos acadêmicos e disciplinares se manifestam em um grau muito mais alto no setor de ambiente construído do que em outras áreas. Diante disso, com o objetivo colocar a indústria no caminho para dobrar a produtividade de recursos e reduzir pela metade a geração de resíduos até 2030, a Arup adotou uma abordagem sistêmica.
Trabalhando em estreita colaboração com a Fundação Ellen MacArthur e outros parceiros, a Arup tem liderado uma série de iniciativas que primeiro estabelecem o embasamento da transformação circular e, em seguida, atuam para disseminar os princípios circulares entre as principais partes interessadas envolvidas no financiamento, entrega e operação de construções e infraestrutura:
Pesquisa e desenvolvimento do caso de negócios (concluído)
Identificação dos caminhos – foi realizada uma análise com mais de 100 estudos de caso e entrevistas com mais de 100 partes interessadas para identificar as barreiras, oportunidades e facilitadores para a adoção da economia circular.
Definição dos modelos de negócios para a criação de valor – em colaboração com a BAM, a Arup demonstrou a proposta de valor, bem como o conjunto de benefícios sistêmicos de adotar modelos de negócios circulares no ambiente construído.
Embasamento para investir – foram reunidas evidências que demonstram as vantagens da economia circular em relação ao modelo de negócios convencional no setor imobiliário.
Formulação de políticas (em andamento)
Uma série de análises em profundidade exploram as opções de políticas em diferentes regiões para criar as condições que favoreçam a transição.
Colaboração (em andamento)
Estabelecer novos formatos de parcerias e atuar de forma colaborativa com clientes e fornecedores para aplicar modelos de negócios circulares em novos projetos, incluindo uma declaração para empresas imobiliárias comprometidas em adotar princípios de economia circular em seus empreendimentos.
Design (concluído)
Desenvolvimento de um conjunto de princípios de design circular para construções, de modo que projetar para durabilidade, adaptabilidade, reparabilidade, substituição de materiais e desmontagem se tornem práticas comuns. Esses princípios estão disponíveis no kit de ferramentas Circular Design Toolkit.
Comunicação (em andamento)
Estabelecer um discurso compartilhado a respeito do valor dos princípios da economia circular no ambiente construído.
Na Arup, a aplicação da economia circular vai além de construções e infraestrutura. Em 2017, especialistas em recursos hídricos da empresa colaboraram com outras empresas da rede da Fundação Ellen Macarthur para melhorar a compreensão de como os princípios circulares, se aplicados ao setor de água e saneamento, podem reduzir o impacto ambiental do setor e capturar valor adicional.
Mais recentemente, a Arup começou a explorar o potencial da agricultura regenerativa e maneiras de melhor integrar a produção de alimentos aos sistemas urbanos.
Uma Arup circular
A Arup opera em quase 100 escritórios em todo o mundo, incluindo mais de 40 mil metros quadrados de área construída no centro de Londres.
Além de moldar um futuro circular de baixo carbono, a empresa tem trabalhado para colocar sua própria casa em ordem. Em 2020, a Arup aderiu ao Net Zero Carbon Buildings Commitment (Compromisso de Edifícios de Carbono Líquido Zero) do World Green Building Council (WGBC). Com isso, a empresa se comprometeu a alcançar o zero líquido nas emissões de carbono nas operações de todos os seus ativos até 2030.
Exemplos de projetos de design circular da Arup
O Edifício Circular
O Circular Building foi projetado e construído em 2016, como parte do London Design Festival, utilizando apenas componentes reutilizáveis. O protótipo em escala real foi construído com materiais que podem ser removidos com danos mínimos, de forma que cada componente pode reter o seu valor. Todos os itens foram “marcados”, a partir de tecnologias digitais, de forma que o edifício também pudesse funcionar como um repositório de materiais para futuras construções.
1 Triton Square
Na 1 Triton Square, em Londres, a Arup reformou um prédio de escritórios da década de 1990, reutilizando o máximo possível da construção original. Ao longo dos próximos 20 anos, as eficiências operacionais do processo economizarão cerca de 63 mil toneladas de carbono, com 54% menos carbono incorporado e uma eficiência operacional mais 50% superior do que uma nova construção padrão.
Edifícios com estrutura de madeira
Edifícios com estrutura de madeira– concreto e aço são os materiais mais comuns usados na construção de edifícios – e dois dos mais intensivos em carbono. O uso de subestruturas de madeira (utilizando madeira proveniente de fontes sustentáveis, com reflorestamento após a remoção das árvores) é um caminho para solucionar essa questão. O Believe in Better Building, projetado pela Arup para a Sky, é o edifício comercial de madeira mais alto do Reino Unido. A construção sequestra 1.242 toneladas de CO2 em sua estrutura, mesmo descontando as 200 toneladas de emissões associadas à fabricação e ao transporte da madeira desde a Áustria. A Arup, atualmente, também é a responsável pela construção do HAUT, em Amsterdã, o edifício residencial de madeira mais alto já construído.
Incubadora da Universidade Macquarie
A Incubadora da Universidade Macquarie é a primeira incubadora de negócios no campus da universidade australiana. A estrutura foi construída utilizando principalmente madeira e tem um layout flexível, o que permite que o edifício seja facilmente adaptado a diferentes usos e atraia uma crescente comunidade empreendedora. A construção foi projetada para ser totalmente realocada caso necessário.
Quay Quarter Tower
A Quay Quarter Tower é outro exemplo de arquitetura em Sydney Harbour. O empreendimento abrange, nesse caso, a transformação de uma quadra inteira da cidade, localizada no centro de um conjunto de torres dos anos 1970. Trabalhando junto à 3XN, uma empresa dinamarquesa de arquitetura circular, e aplicando sua abordagem de reutilização adaptativa, a Arup permitiu que 68% do bloco original fosse reutilizado. A retenção de toda essa energia incorporada evitou emissões significativas de carbono em comparação à construção de um novo edifício.
Viadutos circulares
O conceito de viadutos circulares, denominado Bridges of Laminated Timber (BoLT), foi estruturado com foco em descarbonização, longevidade, modularidade e reutilização.
Concessionária de água de Yorkshire
Para explorar como a economia circular pode ser aplicada à gestão de recursos hídricos, a Arup realizou uma análise das oportunidades de criação de valor circular para a concessionária de água de Yorkshire. O relatório identificou benefícios como maior produtividade de ativos, maior resiliência, diversificação da renda e redução nos custos operacionais.
Culturas materiais
Uma investigação do potencial de materiais de construção de base biológica para apoiar a descarbonização e a criação de empregos locais.
Avaliações de carbono e ciclos de vida
Avaliações de carbono e ciclos de vida– a Arup se comprometeu a realizar, a partir de 2022, avaliações do carbono ao longo de todo o ciclo de vida de todos os seus projetos de construção – para prédios novos ou reformas. Essa é uma medida importante tendo em vista as estimativas de que até 50% das emissões de carbono do ciclo de vida das edificações vêm de carbono incorporado, associado aos materiais e ao processo de construção. Design e modelos de negócios circulares podem ajudar a combater esses tipos de emissões.