O método de policultura oceânica da GreenWave produz uma mistura de mariscos e algas marinhas de uma forma positiva para a natureza. O sistema compreende uma rede simples de cordas e cestos suspensos logo abaixo da superfície, com as diferentes espécies crescendo em diferentes profundidades. Pode ser utilizado para a cultura comercial de produtos marinhos utilizados para a alimentação humana, fertilizantes, ração animal e bioplásticos, bem como para a restauração dos ecossistemas marinhos.
A GreenWave é uma organização sem fins lucrativos, sediada em Connecticut, nos Estados Unidos, e foi criada por Bren Smith, ex-pescador desiludido com a pilhagem infligida pela pesca comercial nos oceanos do planeta. Smith fundou a organização com o objetivo de catalisar o movimento regenerativo da maricultura. Além da GreenWave, ele também gerencia sua própria fazenda marinha, a Thimble Island Ocean Farm, de 20 acres, que a cada cinco meses produz 30 toneladas de algas marinhas altamente nutritivas e 250 mil mariscos.
A missão da GreenWave é fornecer treinamento, ferramentas e outras formas de apoio a uma rede de 10 mil maricultores regenerativos, priorizando pescadores, comunidades costeiras indígenas e as populações diretamente afetadas pelas mudanças climáticas. A meta principal é plantar 1 milhão de acres (400 mil hectares) de mariculturas regenerativas ao longo dos próximos 10 anos.
Os resultados até aqui são positivos. Atualmente, há cerca de 8 mil pessoas na lista de espera por um programa de maricultura.
Por que esse é um exemplo de economia circular
Grande parte das discussões climáticas sobre os oceanos se concentra em seu papel de vítima (desaparecimento de espécies marinhas, acidificação) ou de ameaça (aumento do nível do mar ameaçando vidas e meios de subsistência). Pouca atenção é direcionada ao tremendo potencial dos oceanos para mitigar e até mesmo reverter algumas causas subjacentes das mudanças no clima.
A cada ano, o mar absorve 90% do excesso de calor retido pelos gases de efeito estufa e 30% do CO2 atmosférico do mundo. Diante do aumento das emissões, para continuar desempenhando esse papel, os oceanos precisam de mais apoio. É aí que entra o modelo regenerativo de maricultura da GreenWave.
A maricultura regenerativa não requer nenhum insumo no processo de produção, pois o oceano contém nutrientes suficientes para apoiar o crescimento saudável das espécies. O que acontece é que, normalmente, o escoamento de tempestades de terras agrícolas costeiras ou o fluxo de estuários fluviais contém um excesso de nitrogênio e fósforo devido ao uso excessivo de fertilizantes. As mariculturas regenerativas são capazes de absorver alguns desses nutrientes, reduzindo a probabilidade de eutrofização de algas e o risco potencial de zonas mortas oceânicas.
Além da prestação de "serviços ecossistêmicos", a maricultura regenerativa pode também aumentar a biodiversidade marinha. Os conjuntos das fazendas imitam a estrutura vertical de um recife oceânico, fornecendo camadas de diferentes habitats para uma grande diversidade de espécies marinhas.
O método 3D de maricultura regenerativa é muito eficaz, pois empilha uma série de empreendimentos uns sobre os outros, criando abundância em uma pequena área. Como a estrutura de cultivo é bastante simples, os custos iniciais são baixos. Qualquer pessoa com acesso a 20 acres e um barco pode montar uma fazenda gastando entre USD 20 mil e USD 50 mil e, com isso, produzir cerca de 60 mil quilos de laminárias e 250 mil mariscos por ano.
Os oceanos cobrem 70% do planeta, mas produzem só 2% da comida. A maricultura regenerativa oferece a possibilidade de um sistema de produção marinha que tem alto rendimento e contribui para a regeneração dos ecossistemas marinhos.
Quais são os benefícios
Além de um retorno atrativo sobre o investimento, há muitos outros benefícios associados à maricultura regenerativa, abrangendo a maior parte dos principais atributos da economia circular.
As fazendas oceânicas de algas e mariscos regeneram os sistemas naturais, reduzindo a acidificação dos oceanos e fornecendo um habitat para diversas espécies marinhas.
Uma fazenda padrão, com em torno de 20 acres, pode sequestrar 9.000 kg de dióxido de carbono e 300 kg de nitrogênio em um ano.
As algas marinhas são um ingrediente nutritivo, rico em ômega-3, potássio, ferro, cálcio e fibras. Hoje, muitos chefs de cozinha e designers de alimentos adquirem ingredientes como esse, nutritivos e positivos para a natureza.
A maricultura regenerativa é uma ferramenta para a adaptação climática. Grandes massas flutuantes de plantas aquáticas absorvem a energia das tempestades, reduzindo os riscos para as comunidades costeiras.
De acordo com o Banco Mundial, cultivar algas em apenas 0,1% dos oceanos do mundo poderia criar 50 milhões de empregos diretos e mais 100 milhões de empregos associados.
O potencial de expansão é imenso. O Fórum Econômico Mundial estima que, se a produção de algas aumentar em 14% ao ano até 2050, poderia reforçar a oferta global de alimentos em 500 milhões de toneladas, o equivalente a 10%.
Aumentando a escala
Apesar do potencial da maricultura, os novos agricultores ainda enfrentam uma série de obstáculos no desenvolvimento de seus negócios:
Obter as licenças necessárias pode ser um processo burocrático envolvendo inúmeras agências estatais, bem como superar o “NIMBYismo” (expressão formada a partir de NIMBY, sigla em inglês para “not in my back yard” ou “não no meu quintal”) dos proprietários de casas de veraneio costeiras.
A identificação dos locais adequados para instalar as fazendas precisa considerar muitos parâmetros físicos. A GreenWave recentemente fez uma parceria com a NOAA (National Ocean and Atmospheric Administration ou, em português, Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) para implantar uma tecnologia de sensores de última geração que ajudará a modelar e prever locais ideais.
Sendo um produto relativamente nichado, a infraestrutura necessária para o processamento em grande escala de algas marinhas e laminárias ainda não está implantada. A Sea Grant Network estabeleceu recentemente um Centro Nacional de Algas para atuar como uma instituição de apoio à indústria emergente.
Para aumentar a demanda, a GreenWave criou uma rede de compradores que se estende de Nova York ao Maine. Uma parceria com o Crop Project, um processador de primeira fase sediado em Nova York, levou a um aumento de 400% nas vendas.
A laminária crua tem uma vida útil limitada – precisa ser colhida e processada dentro de uma pequena janela de tempo. Fábricas locais de processamento podem ajudar a resolver a questão. A GreenWave também trabalha em parceria com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para desenvolver uma tecnologia inovadora de embalagens e produtos mais duráveis, a fim de aumentar ainda mais as oportunidades dos agricultores.
Leitura adicional:
Emissões negativas: "a economia azul" – explicativo
Vídeos da GreenWave
Kelp Wanted – The Economist