Uma alternativa regenerativa para a cadeia de abastecimento do óleo de palma: Serendipalm/Dr. Bronner’s

Antes da iniciativa, havia apenas dois tipos básicos de produção de óleo de palma em Gana: grandes plantações dependentes de pesticidas, com os consequentes impactos no meio ambiente e riscos para a saúde dos agricultores, ou pequenas fazendas que não podiam arcar com os custos dos pesticidas e, portanto, apresentavam baixa produtividade e baixa renda.

Para fornecer uma alternativa regenerativa, a Serendipalm contratou uma rede de mais de 700 pequenos agricultores com propriedades de em média 5 a 7 acres. Essas pessoas foram treinadas em métodos de cultivo regenerativos, como a aplicação de adubos ecológicos complementados por técnicas como cultura consorciada, poda, capina e colheita no momento adequado. A Serendipalm também ajudou a desenvolver e disseminar mudas de palmeiras adaptadas localmente e de alto rendimento, mais resistentes a pragas e mais adequadas às condições locais de cultivo. 

O óleo é processado em uma usina local, combinando processos manuais tradicionais e equipamentos modernos em etapas críticas (separação de óleo e água) para alcançar altos rendimentos. A usina emprega mais de 200 pessoas – a maioria, habitantes locais não qualificados ou semiqualificados – com um salário mínimo acima da média. Um grupo diversificado de profissionais motivados gerencia as operações cada vez mais complexas da usina, contando com o apoio da equipe de Operações Especiais da Dr. Bronner's.

Juntos, as centenas de agricultores da Serendipalm e a usina municipal constituem uma cadeia de abastecimento totalmente transparente, integrada e de propriedade da empresa. O exemplo da Dr. Bronner's e de empresas similares, como a Natura do Brasil, mostram como grandes empresas podem criar cadeias de abastecimento regenerativas e justas, dando aos clientes a confiança de que os produtos que utilizam em seu dia a dia têm um impacto positivo nos ambientes e nas comunidades que ajudaram a criá-los.     

Por que esse é um exemplo de economia circular

Desde o início, a Serendipalm trabalhou com pequenos lotes já existentes para a produção de óleo de palma. A empresa também apoiou o cultivo de palmeiras orgânicas, evitando a remoção adicional de florestas, e restaurou campos de palmeiras degradados por meio de práticas agrícolas regenerativas. Essa abordagem protege os estoques naturais de carbono e ajuda a preservar habitats para a vida selvagem local, elementos muitas vezes sacrificados em prol de altos rendimentos. Somente a parte externa do fruto da palma é utilizada pela Serendipalm; as amêndoas de palma são coletadas e vendidas a uma empresa "fair-trade" de produção de sabão, sediada em Togo e instalada em uma cidade vizinha. Os subprodutos das culturas são espalhados para formar fertilizante e devolvidos às fazendas para retornar os nutrientes ao solo.  

Em 2016, a Serendipalm também converteu muitos lotes de cacau de seus produtores de óleo de palma para o uso de práticas orgânicas. A demanda por amêndoas de cacau orgânicas e de "fair-trade" é expressiva na África Ocidental, mas muitos agricultores ganeses ainda usavam pesticidas sintéticos no cacau.

Ao mesmo tempo, a empresa começou a incentivar seus agricultores a adotar métodos mistos de agrossilvicultura. Em 2022, com apoio de uma agência alemã de desenvolvimento, muitos novos campos têm sido plantados seguindo o conceito de agrossilvicultura dinâmica, que integra a produção de palma e cacau com o cultivo de culturas secundárias, como banana, mamão, mandioca, açafrão e gengibre. Muitas dessas culturas adicionais podem ser colhidas no primeiro ano, muito antes do cacau e da fruta da palma, gerando receitas mais rápido e contribuindo para a segurança alimentar. 

A agrossilvicultura – integração da produção agrícola dentro dos sistemas florestais – combina árvores de diferentes alturas, tamanhos de folhas e densidades de copa em uma mesma área de cultivo, maximizando a coleta de luz solar e otimizando a fotossíntese. A diversidade das árvores indica que o sistema como um todo é menos propenso a pragas. A queda natural das folhas e a poda ativa proporcionam uma ciclagem virtuosa de nutrientes que alimenta a biologia do solo, tornando-o altamente fértil e resultando em maiores rendimentos das culturas, maior qualidade dos produtos e maior segurança alimentar.

Esses sistemas também produzem mais biomassa e sequestram mais CO2 atmosférico por hectare anualmente, ajudando a mitigar a crise climática. Em 2020, com programas orgânicos regenerativos implantados para todos os seus agricultores, o projeto de óleo de palma da Serendipalm tornou-se o primeiro do mundo com Certificação Orgânica Regenerativa (ROC). A certificação ROC agora facilita as vendas para empresas que desejam incluir ingredientes regenerativos em sua cadeia de abastecimento.

… e justa também

A Serendipalm exemplifica um princípio fundamental da economia circular: regenerar os sistemas naturais e proteger os estoques naturais de carbono. No entanto, a motivação da Dr. Bronner's para criar a Serendipalm não foi apenas a de garantir uma cadeia de abastecimento positiva para a natureza. A empresa buscava também prover um mecanismo para proteger os agricultores e as comunidades de produtos químicos nocivos, recuperar paisagens degradadas, afastar intermediários exploradores e gerar outros benefícios sociais. 

A maior parte da equipe empregada pela Serendipalm são mulheres, muitas delas viúvas ou mães solteiras – uma demografia particularmente vulnerável em uma sociedade tradicional.  Os salários são 25% superiores à média local e a empresa também oferece assistência médica gratuita. Os trabalhadores têm férias remuneradas e licenças por doença, bem como outros benefícios, como plano de saúde, educação continuada e bônus anuais – todos fatores comuns em economias mais ricas, mas ainda pouco presentes em Gana, principalmente para trabalhadores não qualificados. O fundo de “fair-trade” da Serendipalm e os subsídios adicionais também financiaram uma série de projetos de desenvolvimento comunitário, incluindo uma maternidade na unidade de saúde local, para que todas as mães na cidade de Asuom e região possam ter acesso a cuidados de alta qualidade nos períodos pré-natais, de parto e pós-parto.

Talvez um dos benefícios comunitários mais significativos da produção regenerativa de óleo de palma seja o fato de que o modelo apoia os agricultores a manter a propriedade da terra, usando técnicas para melhorar a saúde do solo ao longo do tempo. Ao aumentar a vitalidade agrícola, a resiliência climática e a segurança alimentar, os agricultores regenerativos de Asuom melhoram a economia global da região e estão justificadamente orgulhosos do seu legado agrícola. 

Benefícios

O uso adequado de insumos naturais permite que os agricultores mantenham sua certificação orgânica, o que garante um adicional de 10% sobre o preço de mercado local para os frutos de palma.  

A implementação de sistemas de agrossilvicultura mais diversificados melhora a produtividade das fazendas e traz benefícios ecológicos para o solo e a biodiversidade. A agrossilvicultura é um sistema de crescimento contínuo que aumenta a segurança alimentar e a resiliência às mudanças climáticas, ao prover sombra e melhorar a hidrologia da região onde é implantado. 

Por serem pioneiras nas práticas de agricultura regenerativa em Gana, a Serendipalm e a Dr. Bronner's desempenham um papel importante no combate às mudanças climáticas, afetando positivamente a vida das comunidades locais.  

Histórico

O óleo de palma é um óleo vegetal comestível derivado do fruto de palmeiras conhecidas como dendezeiros. Trata-se de uma cultura incrivelmente eficiente, capaz de produzir mais óleo por área de terra do que qualquer outro grão ou vegetal equivalente. O óleo de palma é um ingrediente muito versátil, usado desde a fabricação de alimentos até produtos de beleza e biocombustíveis. A combinação de alta produtividade e versatilidade levou a um crescimento de 35 vezes na produção global de óleo de palma desde a década de 1970. A maior parte dessa produção foi derivada de palmeiras cultivadas em terras que antes eram florestas tropicais intocadas. Só em Bornéu, desde 2005 foram destruídos 350 mil hectares de floresta por ano para o cultivo de óleo de palma.

O método dominante de produção de óleo de palma é um dos processos mais lineares da economia moderna, com a maior parte do produto cultivada em grandes monoculturas plantadas no lugar de antigas florestas derrubadas ou queimadas. Essa prática destrói os ecossistemas da vida selvagem, erode o solo, polui os corpos hídricos e libera quantidades significativas de carbono na atmosfera. Além disso, agricultores e comunidades que vivem nas áreas de cultivo das palmeiras são frequentemente mal pagos, explorados ou até abusados como um corolário da produção do óleo de palma. Apesar das consequências ambientais e sociais bem documentadas, as cadeias de abastecimento de inúmeras empresas e produtos utilizam o óleo de palma como ingrediente essencial, e os meios de subsistência de milhões de pessoas em todo o mundo dependem de seu cultivo e processamento. 

Evitar que os habitats da vida selvagem sejam destruídos e melhorar a vida das comunidades locais, das empresas e dos países que utilizam o óleo de palma é essencial para reduzir o carbono das cadeias de abastecimento. É possível fazer isso:

• Reduzindo ou eliminando uso de óleo de palma, particularmente como matéria-prima em produtos como "biodiesel sustentável"

• Redesenhando os portfólios de produtos alimentícios com ingredientes de menor impacto

• Utilizando exclusivamente óleo de palma produzido de acordo com padrões de sustentabilidade

• Seguindo o exemplo da Dr. Bronner's e estabelecendo cadeias de abastecimento verticalmente integradas, regenerativas e socialmente equitativas. 

O óleo de palma é apenas uma das inúmeras cadeias de abastecimento globais que alimentam os portfólios de produtos de empresas internacionais. Em paralelo à Serendipalm, a Dr. Bronner's também estabeleceu cadeias de abastecimento regenerativas semelhantes para o óleo de coco no Sri Lanka e Samoa, bem como para o óleo de hortelã na Índia e no Quênia. 

Mais informações

• Animação apresentando o conceito básico da Serendipalm

• A Dr. Bronner's, juntamente com a Patagônia e o Instituto Rodale, é uma das parceiras fundadoras da Certificação Orgânica Regenerativa. 

• Fazenda Tamalu – agrossilvicultura no Quênia