Modelos de negócios circulares para a moda, que permitem que empresas obtenham receita sem fabricar peças novas, representam uma grande oportunidade para promover um crescimento melhor na indústria. Esses modelos de negócios, que incluem revenda, aluguel, reparos e refabricação, podem evitar grandes quantidades de emissões de gases de efeito estufa e alcançar a marca de USD 700 bilhões até 2030, representando 23% do mercado global de moda. Para isso, existem 4 ações principais que as empresas devem adotar.
Agora é a hora de explorar uma nova forma de fazer negócios na moda
Nas últimas décadas, a quantidade de roupas produzidas pela indústria da moda cresceu cada vez mais, ao mesmo tempo em que as margens de lucro diminuíram e o impacto no meio ambiente aumentou. Entre 2000 e 2015, a produção de roupas dobrou, enquanto a utilização – número de vezes que uma peça de roupa é usada antes de ser jogada fora – diminuiu 36% no mesmo período.
Essa tendência levou a indústria global da moda a produzir cerca de 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 2018 – 4% do total global. Além disso, devido a preços cada vez mais baixos e perda de receita – decorrente do excesso de estoque, da falta de estoque e de devoluções –, as margens de lucro dos principais varejistas de vestuário do mundo diminuíram em média 40% entre 2016 e 2019. O cenário se agravou em 2020 com os impactos da pandemia de Covid-19, que destacou a fragilidade das cadeias de suprimentos do setor, fazendo com que sofresse uma queda de 90% nos lucros em relação a 2019.
Crescimento das vendas e declínio da utilização das roupas desde 2000
Modelos de negócios circulares desvinculam a receita da produção e do uso de recursos
Ao dissociar as receitas da produção de matérias-primas – por meio de modelos de negócios como revenda, aluguel, reparo e refabricação –, é possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a poluição e os impactos sobre a biodiversidade.
Revenda, aluguel, reparo e recondicionamento já equivalem a mais de USD 73 bilhões – e esse número continua crescendo. Desde 2019, e apesar da pandemia global de Covid-19, sete plataformas de revenda e aluguel de roupas – Depop, Rent the Runway, The Real Real, Vinted, Poshmark, Vestiaire Collective e ThredUP – atingiram avaliações de bilhões de dólares. Esses modelos de negócios, que atualmente representam 3,5% do mercado de moda global, têm o potencial de chegar a 23% até 2030. Trata-se de uma oportunidade de USD 700 bilhões e que também pode gerar economias ambientais significativas com o aumento do uso das peças e a redução da produção.
Categorias de modelos de negócios circulares
É possível conceber novos modelos de negócios circulares considerando e combinando as três categorias a seguir
Hoje, existem quatro principais modelos de negócios que circulam produtos e materiais na economia
Aluguel
Inclui aluguéis únicos, de um usuário para outro, por proprietários privados, bem como modelos de aluguel e assinatura em grande escala por plataformas multimarcas ou marcas individuais.
Revenda
Vendas ponto a ponto de itens de segunda mão (online e offline), mercados de terceiros (online e offline) e revendas e devoluções da própria marca (online e offline).
Reparo
Operação por meio da qual um produto ou componente defeituoso ou quebrado é devolvido a um estado utilizável.
Recriação
Operação por meio da qual um produto é criado a partir de outros produtos ou componentes existentes. Pode incluir desmontagem, re-tingimento e reaproveitamento.
Modelos de negócios circulares podem gerar mais competitividade e fornecer melhores margens de produtos
Os modelos de negócios circulares oferecem benefícios de receita e custo. Podem, por exemplo, criar diversos fluxos de receita, permitindo que as empresas ofereçam novos serviços, como restauração, customização e adaptação. Os benefícios de receita incluem maior fidelidade, acesso a dados referentes ao uso dos produtos pelos clientes e aumento da base de clientes. Ao mesmo tempo, os custos podem ser reduzidos a partir da economia gerada pelo uso mais eficiente dos recursos e pela redução de riscos (por exemplo, melhor gerenciamento de estoque).
Modelos em expansão atualmente, como revenda e aluguel, nem sempre resultam em benefícios ambientais
Para desenvolver modelos de negócios circulares bem-sucedidos, a receita precisa ser dissociada da produção e do uso de recursos. Atualmente, embora tenham grande potencial, modelos como os de revenda e aluguel nem sempre alcançam essa dissociação e os benefícios ambientais que ela pode trazer.
Existem muitas barreiras para essa dissociação. Em primeiro lugar, a forma como a indústria mede o sucesso, em geral com base no volume de vendas. Uma empresa que mede seu sucesso dessa maneira pode incentivar a devolução dos produtos (visando à revenda, refabricação ou reciclagem) oferecendo vouchers para a aquisição de novos produtos, o que resulta em um crescimento linear. Em segundo lugar, os produtos nem sempre são projetados para suportar o nível de uso exigido pelos modelos de negócios circulares. Por exemplo, um vestido para ocasiões especiais oferecido por meio de um modelo de aluguel que pareça desbotado ou fora de forma depois de duas lavagens não será uma opção viável, econômica ou ambientalmente. Em terceiro lugar, as cadeias de suprimentos atuais são otimizadas para processos de produção e distribuição previsíveis e unidirecionais, enquanto os modelos de negócios circulares exigem redes locais e globais que facilitem serviços como limpeza, reparo e refabricação. Além disso, as empresas da indústria da moda perdem outras oportunidades econômicas e ambientais ao não combinar ou explorar outros modelos de negócios, talvez novos, que possam dissociar os fluxos de receita da produção e do uso de recursos.
Quatro ações-chave para as empresas
Para garantir que seus modelos de negócios sejam circulares e maximizar os resultados positivos, as empresas, com o apoio de formuladores de políticas, podem realizar quatro ações principais.
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Os modelos de negócios circulares estão disponíveis em: inglês
Para citar esse estudo, use a seguinte referência: Fundação Ellen MacArthur, Modelos de negócios circulares: redefinindo o crescimento para um setor de moda próspero (2021).