As decisões de design determinam o que comemos, o que vestimos, o que valorizamos e como nos comunicamos
A colher de plástico que acompanhava o almoço de ontem foi projetada. A alça, curvada de forma a torná-la ergonômica e empilhável; a escolha do material, leve e econômico; a cor, sinalizando imediatamente a marca. O design está no centro de cada produto e no centro dos sistemas ao seu redor, desde as cadeias de suprimentos necessárias para produzi-lo até os modelos de negócios que o entregam.
As decisões de design determinaram a origem do plástico, os corantes utilizados e o maquinário que comprimiu e formou as folhas de polímero. Essas escolhas influenciaram a forma como as colheres foram embaladas, ensacadas, encaixotadas e seladas – e como foram despachadas e entregues a varejistas em todo o mundo.
Além da colher de plástico, o design também influenciou todos os outros aspectos do almoço de ontem: desde a seleção de ingredientes, sabores e processos de produção até os condimentos que acompanharam o prato e a embalagem dentro da qual tudo foi colocado.
Além de suas funções utilitárias e estéticas, o design molda nossos desejos, desperta nossa imaginação e alimenta nossas aspirações – influenciando nossos comportamentos de compra por meio do uso de campanhas publicitárias que instigam nosso desejo pelo novo, pelo próximo, pelo melhor. O design moldou até mesmo a necessidade de uma colher para viagem em primeiro lugar.
O design moldou os próprios modelos de negócios em torno da colher, desde a experiência de pedido pessoal até os serviços de entrega terceirizados e a tecnologia que tornou tudo isso possível.
Ao longo da jornada de qualquer produto até o mercado, muitas pessoas – não apenas profissionais do design – impactam a forma como projetamos, fabricamos e usamos as coisas ao nosso redor. Profissionais da arquitetura e da criação de marcas, cientistas de materiais, estrategistas de negócios, engenheiros e engenheiras, fabricantes e muitos outros também influenciam as decisões de design.
No entanto, em nosso atual sistema linear, baseado em “extrair-produzir-desperdiçar”, mesmo os produtos projetados de forma mais cuidadosa são descartados, e em geral após um curto período de uso. Em alguns casos, os itens são deliberadamente projetados para durar o menor tempo possível, por questões de higiene, conveniência ou custo. Esse sistema, porém, ignora desafios de grandes proporções, como escassez de recursos, poluição, mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
Hoje, a produção de bens e alimentos é responsável por 45% das emissões globais de gases de efeito estufa. Nunca produzimos tantas roupas quanto atualmente – e nunca as usamos tão pouco: a cada segundo, uma quantidade de roupas equivalente a uma caçamba de caminhão é queimada ou enterrada em aterros sanitários. Em paralelo, um terço de toda a comida produzida é desperdiçado enquanto as pessoas passam fome. Não apenas os materiais são desperdiçados, mas também a energia, os recursos e o trabalho incorporados em sua produção, além do valor social e cultural da criatividade.
Na economia linear, o design tem sido bem-sucedido em fornecer produtos acessíveis em grande escala. Mas os resultados dessa economia extrativa, esbanjadora e poluente também são a causa subjacente das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade. Nesse sistema econômico, intensivo no consumo de materiais e energia, a maioria dos bens comprados não retorna à economia para uso posterior, o que representa uma perda econômica que chega a centenas de bilhões de dólares. Além disso, muitas pessoas sofrem com as más práticas industriais associadas à produção extrativa: desde a exposição a substâncias perigosas ou instalações com condições de segurança precárias até a violação de seus direitos sociais e culturais.
Um movimento sem precedentes para mudar esse sistema está em andamento, o que exige uma transformação fundamental da maneira como produzimos, usamos e reutilizamos produtos e alimentos. Embora o design tenha desempenhado – e continue desempenhando – um papel considerável na construção e manutenção desses sistemas obsoletos, ele também pode ser usado para viabilizar sistemas melhores e que funcionem em longo prazo. Em outras palavras, é preciso repensar o design de forma radical. Fazer isso requer vontade de mudar, criatividade, capacidade, envolvimento de múltiplos setores e abordagens e a expertise de diferentes profissionais. O desafio é urgente, mas o futuro é promissor.
Designers já estão trilhando um caminho mais positivo
Motivados por esse desafio, profissionais do design começaram a abordar a característica mais marcante da economia linear: o desperdício. Combater os sintomas mais visíveis desse sistema falho é um primeiro passo acionável e, inicialmente, pode ser uma reação eficaz. Em longo prazo, porém, essa nunca será uma resposta ambiciosa ou ágil o suficiente diante das proporções de desafios globais como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
Que tal usar menos?
Projetar visando à eficiência de material é fundamental, mas não é suficiente. Extrair e desperdiçar menos ajuda a ganhar tempo, mas não cria um modelo que funcione em longo prazo. Por exemplo, processos de fabricação modernos podem aumentar a eficiência, mas os ganhos são amplamente incrementais. No sistema alimentar, pode haver avanços na produtividade e na redução do desperdício de alimentos, mas o declínio da fertilidade do solo e a degradação da terra permanecem.
Além disso, sem considerar a eficácia geral do sistema, mudanças de design que priorizam a eficiência podem até mesmo ter efeitos prejudiciais não intencionais. Considere as embalagens de detergente nas prateleiras dos supermercados. Para minimizar o consumo de combustível fóssil, o desperdício e os custos de produção, uma empresa pode trocar a embalagem por um recipiente de filme flexível – que usa metade do plástico da garrafa original e é mais leve para transportar. Combinadas, essas mudanças ajudam a reduzir as emissões de CO2. Mas pensar apenas na eficiência do material, sem considerar o que acontece com a embalagem flexível no final de sua vida útil, é ignorar o quadro completo. O filme, que não é um material tão reciclado, será descartado como resíduo. Ou seja, os efeitos rebote das decisões de design podem fazer que os ganhos de um lado sejam perdidos de outro.
Que tal usar os resíduos como recursos?
Já existem soluções que transformam resíduos em recursos e produtos, criando novos fluxos de receita no processo: a reciclagem de lama têxtil em tijolos, por exemplo, ou de garrafas de plástico recuperadas em solas de tênis. No entanto, coletar “resíduos” para fabricar algo novo costuma ser apenas a ponta do iceberg – não considera a energia usada no processo, os resíduos gerados na fabricação do produto original ou o que acontecerá com o novo produto quando não for mais desejado ou necessário. Simplesmente projetar usando os resíduos, em vez de eliminar resíduos, aborda apenas uma parte do problema. Projetar garrafas de plástico reutilizáveis e tênis duráveis e reparáveis (em vez de, por exemplo, tênis fabricados utilizando plástico retirado dos oceanos) pode garantir que ambos permaneçam na economia. Não se trata de retê-los por apenas um ciclo extra, mas de garantir que nunca se tornem resíduos.
E a reciclagem?
A reciclagem traz benefícios reais: reduz o lixo e a poluição e cria milhões de empregos em todo o mundo. Mas acreditar que a reciclagem resolverá os problemas ambientais do mundo apenas nos leva a uma falsa sensação de segurança. Na maior parte dos processos de reciclagem de materiais como papel e poliéster, acontece uma perda de qualidade. Na indústria da moda, menos de 1% dos materiais usados para produzir roupas são reciclados em novas peças, e apenas 12% são reciclados para se tornar outros produtos após o uso. Exemplos desses tipos de processo de reciclagem incluem isolamento de baixo valor e preenchimento de colchões, os quais são produtos difíceis de se recapturar no final da vida útil. Ações como essas resultam apenas em um pequeno atraso no tempo que os produtos levarão para chegar ao mesmo destino, em um processo linear.
Nossos sistemas, que vazam resíduos para o meio ambiente, implicam uma perda substancial de material. Uma lata de alumínio – com taxa de reciclagem de 90% e vida útil de 3 meses – seria totalmente perdida após 4 anos. Não existem sistemas de coleta e triagem perfeitos – e, mesmo que existissem, as limitações inerentes à reciclagem nos deixam fortemente dependentes da extração de novos materiais finitos e da energia para refiná-los. A reciclagem por si só não garante que os materiais sejam mantidos em uso e em seu valor mais alto a longo prazo.
Pesquisas mostram que a eficiência de materiais e a reciclagem desempenham um papel importante para reduzir a extração de matéria-prima, a perda de biodiversidade e as emissões de CO2. No entanto, eles não combatem o desperdício e a poluição em sua origem e exigem novos insumos de energia, trabalho e criatividade, entre outros recursos.
Precisamos criar intervenções sistêmicas que eliminem o desperdício e a poluição em sua origem.
O desafio que temos pela frente não é tratar os sintomas de uma economia extrativa. Para o design, os desafios da inovação estão no início das cadeias, antes que os resíduos e poluição sejam gerados. Precisamos pensar nas oportunidades de gerar valor em longo prazo, em vez de perpetuar um modelo infinitamente linear.
O design tem o poder de ser transformador, e aqueles que estão na vanguarda da mudança têm demonstrado isso. Algumas empresas estão reinventando produtos do dia a dia, eliminando a necessidade de embalagens plásticas para cosméticos e produtos domésticos, desenvolvendo formulações sólidas e concentrados líquidos com membranas solúveis. Outras têm desenvolvido novos modelos de serviço que permitem o empréstimo de ferramentas domésticas, o conserto de aparelhos eletrônicos e a circulação de roupas. Para desencadear o surgimento de novos sistemas, são necessárias intervenções de design em todos os setores, desde a maneira como fabricamos e usamos as coisas até o design de infraestrutura e políticas que viabilizem a circulação de produtos e materiais na economia.
A economia circular é impulsionada pelo design
A economia circular é uma estrutura de solução de sistemas que desvincula gradualmente a atividade econômica do consumo de recursos e ajuda a enfrentar desafios globais como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, desperdício e poluição. A economia circular oferece oportunidades para um crescimento melhor e que não apenas contribuem para a criação de sistemas mais resilientes, mas também fornecem benefícios para toda a sociedade, como um ambiente mais saudável. A economia circular também tem o potencial de reduzir os custos de acesso a bens e serviços. Desde 2012, o conceito e a justificativa econômica para a economia circular têm sido amplamente pesquisados e discutidos, e estão bem documentados em publicações da Fundação Ellen MacArthur, bem como de outras organizações empresariais, políticas e de pesquisa. Hoje, o impulso para a transição tem ganhado força entre empresas e instituições financeiras, com cada vez mais organizações adotando práticas de economia circular para gerar valor e aumentar a competitividade.
Formuladores de políticas em todos os níveis do governo, das cidades às instituições internacionais, também têm considerado a economia circular uma abordagem de desenvolvimento econômico. Capaz de ir além das medidas focadas no final da cadeia (como melhores regulamentações de resíduos), a economia circular cada vez mais é reconhecida como uma abordagem que apoia as prioridades dos formuladores de políticas – aproveitar a inovação, fornecer uma nova abordagem de produção e consumo e combater desafios globais interconectados, como resíduos e poluição, mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
Aliado a finanças e políticas, o design pode ajudar a concretizar um futuro regenerativo e circular.
O design circular aplica e possibilita os três princípios da economia circular: Eliminar, Circular, Regenerar. Seja no (re)desenho de um produto, serviço ou modelo de negócios, o design circular usa o pensamento sistêmico para criar soluções que oferecem melhores resultados para todo o sistema.
Na prática, isso significa:
Eliminar o desperdício e a poluição no início da cadeia:
considere optar por materiais seguros, projetados para circular mais de uma vez, utilizar subprodutos ou envolver-se com a inovação de materiais e produtos.
Circular materiais e produtos projetando-os para que sejam mantidos em uso e com seu valor mais alto pelo maior tempo possível:
considere projetar visando à reparabilidade, possibilidade de atualização e durabilidade emocional, além de criar sistemas de reutilização, reparo, refabricação e reciclagem e modelos de negócios (revenda, aluguel, compartilhamento) que permitam que produtos e materiais sejam usados mais vezes, por mais pessoas e por mais tempo.
Regenerar a natureza a partir do design orientado para melhorar a qualidade da biodiversidade, do ar e da água:
considere projetar visando resultados regenerativos, ou seja, criar as condições para a natureza prosperar;
considere projetar visando ciclos sucessivos nos quais materiais de base biológica sejam usados em diferentes aplicações e devolvidos à terra com segurança.
Aplicar os três princípios da economia circular dentro de uma abordagem de pensamento sistêmico fornece um senso de direção para navegarmos melhor na complexidade da mudança de sistemas. Os efeitos de intervenções destinadas a mudar sistemas nem sempre são previsíveis. Usar o pensamento sistêmico para embasar o design circular, portanto, ajuda a contextualizar problemas, identificar oportunidades para a mudanças de sistemas e ampliar a capacidade de aprendizado à medida que novas informações e tecnologias se tornam disponíveis.
O pensamento sistêmico não é um exercício individual, mas coletivo. Apoia-se na experiência interdisciplinar de atores em toda a cadeia de valor e nas experiências das pessoas que investem em – e são afetadas por – mudanças de sistemas.
O design circular envolve um movimento pendular entre uma visão macro, considerando os princípios de um futuro circular, e a criação e teste de intervenções com impacto positivo imediato, que se tornam cada vez mais circulares ao longo do tempo. Para profissionais do design, trata-se de um esforço criativo e colaborativo no sentido mais amplo possível, com o objetivo de contribuir para a pluralidade de soluções necessárias para mudar os sistemas econômicos em larga escala.
“O design circular começa com uma crítica de como alguns dos atributos que valorizamos no design – ágil, iterativo, centrado no usuário e na solução de problemas – não são mais adequados se quisermos fazer a transição para um mundo diferente. Em vez disso, precisamos agir de forma mais coletiva e centrada no planeta. Precisamos ser ousados e transformadores e nos ver como agentes responsáveis em situações em constante mudança”. Cat Drew, diretora de design da Design Council
O design circular tem como base e foi influenciado por um extenso corpo de pesquisas e práticas, incluindo Pensamento Sistêmico, Design Sistêmico, Cradle to Cradle, Design de Transição, Biomimética, Design Regenerativo, entre outros. Esses conceitos revelam diferentes facetas da transição da economia linear para circular e, juntos, representam um poderoso e abrangente movimento de design.
Como começar: aplicando o design circular
Pode ser difícil navegar entre os desafios de design – complexos, sistêmicos e em constante evolução. Três ações complementares podem guiar a aplicação do design circular:
Visão micro e visão macro: projetar considerando o contexto
Ampliar o escopo da geração de valor
Evoluir a partir de feedbacks contínuos
Visão micro e visão macro: projetar considerando o contexto
No design circular, podemos variar entre a visão micro e a visão macro a partir de três lentes de sistema diferentes, mas interconectadas:
Indivíduo <> Sociedade
Ambiente local <> Ecossistemas globais
Troca de valor singular <> Sistemas econômicos
Considere o cenário mais amplo. Variar entre a visão micro e a visão macro desse dado cenário através de diferentes lentes ajuda a desenvolver uma maior consciência contextual do sistema dentro do qual e para o qual estamos projetando. Observar tanto o todo quanto os detalhes pode revelar a origem de um problema e é uma forma de avaliar continuamente os impactos atuais e futuros, sejam positivos ou negativos, das decisões de design.
Em uma economia linear, o design normalmente é um processo isolado, focado apenas nas necessidades de curto prazo da empresa e do cliente, enquanto impactos sociais, ambientais e econômicos são externalizados. Em uma economia circular, as decisões de design levam em consideração o sistema como um todo por um longo período de tempo.
Ligue os Pontos, São Paulo
Visão micro e visão macro
Um exemplo de projeto que adota tanto a visão micro quanto macro para criar sistemas alimentares circulares é o Ligue os Pontos. Trata-se de uma iniciativa colaborativa que fornece alimentos nutritivos aos habitantes de São Paulo, ao mesmo tempo em que apoia sistemas de agricultura regenerativa nas áreas periurbanas e ajuda a combater a desigualdade social.
Em uma visão micro, considerando a microescala, é possível observar que as famílias agricultoras com pequenas propriedades que vivem no entorno do município enfrentam uma série de desafios socioeconômicos, como o aumento da degradação do ecossistema devido à crescente urbanização e a perda de oportunidades de renda. Já ao adotar uma visão macro, afastando-se espacial e socialmente, percebe-se que também existem muitos grupos vulneráveis no centro da cidade, com pouco acesso a alimentos saudáveis e nutritivos. Em paralelo, a seca ameaça cada vez mais as redes de água das quais a cidade depende.
Para enfrentar desafios sistêmicos como esses, a Prefeitura de São Paulo tem trabalhado com atores em toda a cadeia de valor alimentar para implementar ações em diferentes níveis do sistema. Inicialmente focada no fornecimento de alimentos sazonais e de alta qualidade para escolas e cantinas públicas, a iniciativa se comprometeu a adquirir alimentos produzidos de forma orgânica e regenerativa, diretamente dos agricultores locais e a um preço 30% acima do valor de mercado, a fim de incentivar a transição. As refeições nas escolas são elaboradas para usar produtos sazonais e locais – e qualquer alimento que não possa ser usado é compostado e devolvido aos agricultores para fertilizar o solo.
Além das compras públicas, o projeto inclui iniciativas para criar um modelo de negócios abrangente e resiliente, conectando os agricultores a uma ampla gama de compradores no centro da cidade, incluindo mercados de comida de rua, restaurantes e empresas de entrega de alimentos. Por meio do projeto, os agricultores que estiverem fazendo a transição de práticas agrícolas convencionais para a agricultura regenerativa também recebem acesso à educação e assistência técnica. O Ligue os Pontos atua ainda qualificando a infraestrutura rodoviária, garantindo acesso a armazéns e oferecendo incentivos financeiros. Há também programas educacionais e de engajamento para escolas e chefs da cidade. O Ligue os Pontos é um programa local de longo prazo que abrange iniciativas sistêmicas e gera múltiplos benefícios sociais, ambientais e econômicos. Dê uma olhada no mapa da cadeia de valor agrícola local da região.
Ampliar o escopo da geração de valor
Ao ampliar o escopo do que estamos projetando para além do lucro econômico, podemos criar oportunidades de geração de valor que não seriam viáveis na economia linear. O design circular busca projetar intervenções em diferentes níveis de um sistema: produto, modelo de negócios e as condições – ou seja, políticas, finanças e educação – que permitem que esse modelo prospere. Ao fazer isso, moldamos um ecossistema no qual o valor é distribuído.
Trata-se de agregar valor em todas as etapas do processo, mantendo os materiais em uso, aumentando o número de usuários para cada produto e adotando práticas que gerem resultados regenerativos para a natureza.
Para ilustrar as oportunidades de geração de valor dentro de um sistema saudável, a natureza talvez seja o melhor exemplo. Numa floresta, a folha que cai da árvore alimenta a terra, os animais selvagens espalham as sementes e enriquecem os solos e as redes “neurais”' fúngicas redistribuem nutrientes. Plantas, animais selvagens, fungos e bactérias não apenas coexistem, como se beneficiam. Observar essas propriedades dos sistemas naturais pode inspirar a criação de ecossistemas de negócios resilientes e regenerativos.
Ligue os Pontos, São Paulo
Ampliando o escopo da geração de valor
Para a cidade de São Paulo, a implementação de um mecanismo financeiro isolado seria uma solução para os produtores locais – mas seria de curto prazo. Em vez disso, a prefeitura identificou oportunidades para gerar valor em todo o sistema alimentar que trarão benefícios de longo prazo. Ao ampliar o escopo do projeto, o município enfrenta desafios sociais e ambientais tanto no centro da cidade quanto nas áreas periurbanas. Os alimentos produzidos de forma regenerativa na periferia de São Paulo geram lucro para os agricultores, comunidades locais e empresas do centro da cidade. Essas práticas trazem uma série de benefícios, como oportunidades de emprego para a próxima geração de agricultores, e, ao mesmo tempo, melhoram a saúde do solo, ajudando a conter e reverter a perda de biodiversidade e preservar a água potável. Os alimentos orgânicos produzidos de forma regenerativa oferecem ganhos de saúde em longo prazo, em um sistema que promove acesso equitativo à nutrição para populações vulneráveis. Os programas educacionais desenvolvidos pela prefeitura também ajudam a aprofundar conhecimentos e habilidades em sistemas de agricultura regenerativa. Além disso, a infraestrutura adicional construída para apoiar o projeto não apenas fortalece o sistema alimentar como permite que as pessoas nas áreas rurais se desloquem com mais facilidade, unindo ecologia e economia.
Evoluir a partir de feedbacks contínuos
Uma vez que o design circular revela a complexidade do mundo ao nosso redor, encontrar o ponto de partida "certo" pode ser uma tarefa difícil. É importante começar em algum lugar e evoluir com o tempo, pois nunca haverá um checklist ou um conjunto de dados completo. Projetar intervenções que mudem o sistema visando a um futuro melhor não é uma ciência exata. Os sistemas econômicos que estamos projetando têm propriedades emergentes; assim como os sistemas climáticos, acumulam complexidade e evoluem constantemente. Existem muitas incógnitas. Além disso, estamos projetando durante um período de transição em que coexistem tanto a economia linear quanto a economia circular, de forma que pode haver pontos conflitantes entre os incentivos, estruturas e comportamentos do modelo antigo e os do novo.
“Uma das habilidades mais importantes é ser capaz de alternar entre a visão micro (ou sua própria área de especialização) e a visão macro. E, a partir disso, entender, tanto em uma perspectiva espacial quanto oralmente, de que forma o que você está fazendo em um determinado momento pode contribuir para o todo, considerando que esse todo deve estar em transição para um futuro sustentável, equitativo e desejável”. Terry Irwin, diretor do Transition Design Institute
Seja projetando produtos, serviços, os sistemas nos quais estão inseridos ou os processos e políticas nos quais são embasados, incorporar mecanismos para criar ciclos de feedback pode ajudar a acompanhar, medir e avaliar as reações do sistema ao longo do tempo. Isso pode variar de simples entrevistas com usuários até a integração de tecnologias de contabilidade digital.
Essa avaliação dos feedbacks do sistema pode ajudar a aprimorar soluções e revelar novas oportunidades para gerar e ampliar valor para todo o sistema.
Ligue os Pontos, São Paulo
Evoluindo a partir de feedbacks contínuos
O projeto Ligue os Pontos demonstra que o desperdício agrícola e alimentar em todo o sistema ainda é um problema a ser resolvido. Os pilotos iniciais do projeto, embora de importância vital, ainda não são a regra – precisam ser expandidos para toda a região. Demonstrar o funcionamento de um sistema alimentar pode ser um embasamento para outras cidades e governos locais que desejam abordar desafios sistêmicos semelhantes.
Estabelecer condições favoráveis e disponibilizar as ferramentas necessárias para apoiar a mudança é fundamental. Nesse aspecto, o projeto Ligue os Pontos resultou na colaboração com as iniciativas Sampa + Rural e Sis Sampra para construir uma plataforma digital que ajudasse os agricultores a terem acesso a assistência técnica, treinamentos, equipamentos e financiamento. A ferramenta também é fundamental para a coleta e análise de informações em tempo real sobre a produção rural e o monitoramento dos planos de ação. Por meio desses feedbacks contínuos, à medida que o piloto se consolida, o design de ações, políticas, programas e infraestrutura pode evoluir para as necessidades do sistema mais amplo.
O design circular envolve reimaginar completamente nosso sistema atual, em busca de resultados positivos de longo prazo, e começa hoje.
As ações para começar a mudar um sistema podem ser tão simples quanto , de modo que a peça possa ser refeita no futuro. Também pode ser uma ação tomada em âmbito organizacional, como o desenvolvimento de métricas de design circular para equipar os designers com as ferramentas adequadas. Seja qual for o ponto de partida, considere as implicações mais amplas das intervenções no local e ao longo do tempo.
Todos nós temos um papel a desempenhar na concepção de sistemas melhores e que funcionem em longo prazo.
Para ter acesso a outros materiais e atividades para entender, definir, criar e promover inovações circulares, explore o Guia de Design Circular, desenvolvido pela Fundação Ellen MacArthur em parceria com a IDEO, e conheça um conjunto de ferramentas de design circular, da nossa rede e de outras organizações, que pode ajudar você a começar.